A rota para a Estação Espacial Internacional está cada vez mais “concorrida”, mas, para a Europa, a capacidade de enviar missões à ISS, especialmente tripuladas, continua a depender da colaboração da Agência Espacial Europeia com parceiros internacionais.
“Estamos 100% dependentes dos Estados Unidos e da Rússia”, admite Andreas Mogensen, astronauta da ESA e líder do Human Exploration Group no Centro Europeu de Astronautas da agência.
Em entrevista, à margem da 4ª edição da iniciativa Astronauta por um Dia, o astronauta afirma que a Europa possui “know-how técnico e competências para enviar tripulações para a ISS”, no entanto, falta “vontade política para investir de forma adequada nos voos espaciais humanos”.
“Mas estamos lentamente a avançar nesse sentido”, revela Andreas Mogensen. “Temos em desenvolvimento um serviço de transporte de carga em órbita baixa, que esperamos que esteja pronto em 2029”.
O astronauta espera que na próxima reunião ministerial da ESA, em 2028, os Estados-Membros da agência decidam preparar esse serviço para o transporte de tripulações. “Esperamos fazer progressos no futuro. Porém, neste momento, não temos capacidade”, afirma.
A falta de autonomia representa riscos significativos para o futuro da Europa no Espaço. Dependendo de outras nações para “realizar investigação científica em órbita baixa, numa estação espacial, ou explorar a Lua e contribuir para a exploração do Espaço”, isso significa que “outros países podem influenciar diretamente o desenvolvimento da Europa”.
“Precisamos de convencer nossos políticos de que isto é importante”, defende Andreas Mogensen. “No atual contexto geopolítico, acredito que a Europa está lentamente a despertar, tanto em termos de defesa como na esfera espacial.”
Os riscos não são apenas estratégicos, mas também impactam as futuras gerações. Como explica, os jovens “olham para o mundo e veem um contexto global com muitas oportunidades”, desejando estudar ou trabalhar onde se sentem mais inspirados.
“Se virem os Estados Unidos a enviar astronautas para a Lua, a China a fazer o mesmo, a Índia a construir uma estação espacial para enviar os seus astronautas e depois olharem para a Europa e perceberem que não temos nada disso, a mensagem que recebem é que a Europa não está a avançar, que o futuro está noutro lugar”, alerta.
Em suas palavras, há um “risco muito real” de que “nossos melhores talentos possam acabar desenvolvendo suas carreiras fora da Europa”.
É neste contexto que iniciativas como o Astronauta por um Dia têm um papel relevante para inspirar os jovens e mostrar o que se faz na Europa em termos de exploração espacial.
“É uma parte muito importante do nosso trabalho”, ressalta Andreas Mogensen. “A exploração do Espaço é uma maneira excelente de despertar nos jovens o interesse pela ciência, tecnologia e engenharia, mostrando-lhes desde cedo como essas áreas são fascinantes”.
“A esperança é que, quando terminarem o ensino secundário e tiverem que escolher uma carreira, optem por essas áreas. A ciência e a engenharia são incrivelmente importantes para o nosso futuro”, enfatiza o astronauta.
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Este ano, pela primeira vez, a iniciativa da Agência Espacial Portuguesa foi a Santa Maria, nos Açores, onde está emergindo um novo porto espacial que, no futuro, poderá impulsionar as ambições de Portugal e da Europa no Espaço.
Como lembra Andreas Mogensen, “o Espaço representa uma excelente oportunidade para a Europa, pois requer pessoas altamente qualificadas e competentes, com um alto nível de formação técnica, e isso é uma das nossas forças”, acrescentando que “a indústria espacial pode desempenhar um papel muito importante em países como Portugal”.
