A nova postura do presidente dos EUA sobre a guerra na Ucrânia não surpreende, pois as expectativas já eram muito baixas.
Durante a campanha presidencial que o levaria de volta à Casa Branca, o então candidato republicano afirmou que resolveria o conflito entre a Rússia e a Ucrânia em 24 horas. Ele repetiu uma ideia que analistas consideravam absolutamente impossível, o que acabou por ser um dos tópicos mais discutidos da campanha. Uma vez (re)instalado na Casa Branca, ficou evidente que as reservas dos analistas eram justificadas. Trump chegou a dizer que estava sendo irônico ao afirmar que resolveria a guerra em 24 horas. Mais tarde, disse que precisaria “de duas semanas ou menos” para ver se haveria progresso ou negociações entre Rússia e Ucrânia.
Frente à expectativa criada, causou enorme surpresa aos países que apoiaram a Ucrânia desde o início da invasão, especialmente as nações europeias, perceber que a estratégia de Trump envolvia demonstrar total simpatia política e diplomática pelo seu homólogo russo, Vladimir Putin, relegando o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, a uma posição de subalternidade — nem mesmo lhe foi concedido o direito de participar das conversas.
No entanto, a maior surpresa ainda estava por vir: há alguns meses, Trump apresentou um projeto que, aparentemente, visava negócios, condicionando a continuidade do auxílio financeiro dos EUA à assinatura de um acordo que transferiria para os Estados Unidos o direito de exploração das chamadas terras raras. Como observou o analista Francisco Seixas da Costa, “a Rússia quer se apropriar do solo da Ucrânia e os Estados Unidos do subsolo”.
Após a humilhação política de ver a realidade desmentir o plano das “24 horas” e das “duas semanas ou menos”, a estratégia de Trump para a Ucrânia ganhou novo impulso (e lhe rendeu pontos para um eventual Nobel da Paz) quando a Casa Branca conseguiu marcar uma cúpula entre os dois líderes no Alasca — uma região que já foi parte da Rússia. Tudo parecia resolvido: após a cúpula, restava apenas que a ‘arraia miúda’ (isto é, Zelensky) fizesse o trabalho simples de combinar os detalhes. No entanto, isso não aconteceu, como todos os analistas previram na época.
Agora, passadas pouco mais de cinco semanas após a humilhação no meio da neve, Trump alterou sua estratégia em 180 graus e decidiu que a Ucrânia tem autorização para retomar suas antigas fronteiras, incluindo a Península da Crimeia. Ele promete manter o apoio em armamento — desde que, evidentemente, alguém pague por ele. É possível que o Nobel da Paz esteja mais distante, assim como a paz verdadeira, mas, por enquanto, a Casa Branca continua a ‘beneficiar o infrator’: ao contrário do prometido, não há ainda qualquer sanção direta contra a Rússia. O que é irônico, dado que já há várias negociações em andamento com a Rússia.
