A empresa sobrepõe as ações em relação à renda fixa.
MADRI, 16 de outubro. (EUROPA PRESS) –
A diretora de estratégia da JP Morgan Asset Management (AM) para Espanha e Portugal, Lucía Gutiérrez-Mellado, antecipou nesta quinta-feira, em encontro com a imprensa, sua visão para os próximos meses de crescimento econômico global e um ambiente “construtivo” para os ativos de risco.
Por isso, a gestora detalhou que sobrepõe o universo de investimento em ações em relação à renda fixa, tipologia na qual diminuíram a exposição ao crédito e mantêm duração, caso haja surpresas negativas nos dados macroeconômicos.
Apesar disso, a previsão geral se baseia na expectativa de que continuem a observar crescimento econômico a nível global e um aumento “contido” da inflação, o que continuará permitindo que bancos centrais, como o Federal Reserve (Fed), permaneçam no caminho de cortes nas taxas de juros.
Por regiões, após anos de ‘excepcionalismo estadunidense’ pela força de suas ações, Gutiérrez-Mellado explicou que a entidade opta por ter uma posição neutra entre o país norte-americano e a Europa.
“As carteiras nos últimos anos estiveram mais inclinadas para os Estados Unidos; atrásra, talvez, isso não faça tanto sentido”, afirmou, mencionando que têm dúvidas sobre se o mercado norte-americano será capaz de manter o forte ritmo dos últimos anos, marcado pelo impulso das ‘Sete Magníficas’.
“É preciso ter cuidado, nem tudo que brilha é ouro nos Estados Unidos”, enfatizou, acrescentando que as avaliações desse mercado, ao contrário do europeu, são atrásra muito exigentes e requerem um comportamento seletivo ao investir.
Precisamente, por causa dessa previsão de uma evolução mais semelhante entre os mercados dos EUA, Europa e emergentes, a diretora enfatizou ao longo da apresentação a necessidade de diversificação: “É preciso ter exposição a todas as regiões, temos que ter carteiras globais”, destacou.
Em relação à visão macroeconômica, Gutiérrez-Mellado englobou que esta última parte do ano está sendo mais tranquila do que a primeira, graças à chegada de acordos comerciais mais benevolentes do que os temidos no ‘Dia da Libertação’.
Sobre o impacto desta conjuntura tarifária, explicou que a avaliação em relação à inflação é positiva por enquanto: “É verdade que houve um aumento no preço dos bens, como era de se esperar, mas houve outros componentes que até atrásra haviam sido bastante persistentes e que se mantiveram ancorados. Por exemplo, toda a parte de serviços ou toda a parte de pressão salarial”, descreveu.
Além disso, com o olhar voltado ao mercado de trabalho dos EUA, continuou que “está se contratando menos, mas o importante é que os desligamentos não estão aumentando de forma significativa”. Por conta da soma desses elementos, antecipou que o Fed cortará as taxas duas vezes mais entre este ano e o próximo.
Ligado ao dólar, a diretora da JP Morgan AM constatou que, a curto prazo, estão neutros em relação à moeda, mas que a médio e longo prazo, veem espaço para que o ‘bilhete verde’ se desvalorize.
Este contexto de flexibilização monetária, junto com o impacto do plano fiscal e das reduções de impostos de Trump, ajudará a que a economia e as empresas tenham um bom desenvolvimento em 2026, embora isso tenha seu lado negativo em relação à evolução do déficit público.
Nessa linha, as empresas dos EUA também demonstraram, na opinião da JP Morgan AM, uma grande capacidade de adaptação a esse novo cenário, já que conseguiram crescimentos dos lucros empresariais de 10% no último trimestre e os acordos no setor de IA estão atuando como motor econômico em meio à desaceleração de outros setores.
“Desde o início deste ano, temos uma visão mais construtiva sobre a Europa, porque estamos vendo uma mudança de mentalidade, uma mudança de filosofia. Essa mudança de filosofia começou com as eleições alemãs e vimos essa virada em sua política, não só na Alemanha, mas também no resto da Europa”, comentou, ressaltando a atenção ao Velho Continente e seu potencial com os novos planos fiscais e de gastos em áreas como defesa e infraestrutura.
“Essa mudança de rumo nos parece que, a médio e longo prazo, deve ser boa para a economia europeia”, afirmou, embora tenha alertado que ainda é preciso concretizar o impacto das tarifas e que as exportações também podem ser afetadas pela força do euro.
Por outro lado, indicou que as economias europeias também têm a seu favor o elevado nível de poupança dos consumidores, um Banco Central Europeu (BCE) que já fez seu trabalho em relação às taxas de juros e que ainda tem parte dos fundos europeus ‘Próximo Generation’ a serem implementados.
Associado à Europa, a diretora valorizou a evolução favorável do setor bancário europeu, cujas cotações, inclusive, superaram as tecnológicas dos EUA e considerou que continuará exercendo esse papel após anos estéreis devido aos efeitos da crise financeira e dos juros negativos.
Em relação à China, Gutiérrez-Mellado destacou que no gigante asiático vê uma economia em duas velocidades: de um lado, o peso da crise imobiliária que ainda não foi resolvida; do outro, o impulso tecnológico.
“Vamos ver uma disputa pelo liderado tecnológico, por quem se tornará o líder tecnológico entre os Estados Unidos e a China”, antecipou após o último embate nos últimos dias em meio às negociações comerciais.
