O centro de Zurique foi o primeiro laboratório da IBM fora dos Estados Unidos e está prestes a completar 70 anos, continuando como um dos principais centros de inovação da empresa americana desde a sua fundação em 1956. O foco em pesquisa e inovação, aliado à atenção às necessidades do negócio, foi destacado por Alessandro Curioni, VP da IBM Research para a Europa e África, e Diretor do IBM Research Zurich, durante uma apresentação a jornalistas na Suíça.
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A colaboração aberta e a diversidade cultural são fundamentais para o desenvolvimento de inovação, com diversas equipes de pesquisa explorando áreas avançadas. Este foco tem se traduzido em descobertas de novos materiais e processos, conforme publicado em revistas especializadas, como foi verificado durante uma visita aos laboratórios. A ênfase na investigação fundamental não exclui o interesse em alcançar resultados práticos aplicáveis ao setor, exigindo um equilíbrio que deve ser mantido para garantir a relevância da inovação.
A computação quântica é um dos principais focos deste centro, que já foi visitado em 2020. Desde então, a tecnologia avançou consideravelmente, e a IBM tem cumprido as metas de um roadmap que aponta para um cenário onde a computação quântica é “útil para o mundo”, englobando diversas áreas, desde hardware até algoritmos, software e processos, em colaboração com várias entidades.
O potencial da tecnologia quântica é vasto. Um estudo da McKinsey estima que a tecnologia quântica (TQ) pode gerar até 97 bilhões de dólares em receitas globais até 2035, com a computação quântica representando a maior parte deste montante, passando de 4 bilhões em 2024 para 72 bilhões em uma década.
2025 foi designado o Ano Internacional da Ciência e Tecnologia Quântica pelas Nações Unidas, e indicativos sugerem que, após anos de testes e desenvolvimento limitado, os avanços são uma realidade, com melhorias na capacidade computacional e redução de erros.
Um futuro cada vez mais perto
Recentemente, a IBM anunciou dois importantes desenvolvimentos na computação quântica, bem como o roadmap para a “vantagem quântica”, que não é considerada o objetivo final dessa jornada, mas um primeiro passo. A ideia é que a capacidade dos computadores quânticos, combinada com métodos clássicos e Inteligência Artificial, pode superar o que atualmente é possível. A IBM busca estar pronta para escalar a computação do futuro e garantir acesso a seus parceiros e clientes.
O calendário atualizado foi revelado na Quantum Developer Conference 2025, onde foram apresentados casos demonstrando que estamos entrando na era da vantagem quântica. Em Zurique, Curioni ressaltou a visão de que, ao alinhar a computação quântica com a tradicional e a IA, estamos adentrando uma nova era da computação.
No passado, a infraestrutura de computação era dominada por CPUs, depois por GPUs… Estamos prestes a entrar em uma nova era, onde a computação quântica será o foco principal. É um Quantum Centric Supercomputer, e futuramente teremos um Quantum Centric Computer, explicou. Embora a competição na computação quântica exista, com empresas como Google e a Academia de Ciência da China, Curioni acredita que a IBM está alguns anos à frente.
Os recentes anúncios incluem o chip IBM Quantum Nighthawk, com 120 qubits dispostos em design retangular, e o IBM Quantum Loom, que ainda está em fase experimental, mas é crucial para a computação quântica tolerante a falhas.
Com estas inovações, a IBM está acelerando seu plano para construir o primeiro computador quântico tolerante a falhas, o IBM Quantum Starling, que será instalado no novo IBM Quantum Data Center em Poughkeepsie, Nova Iorque, até 2029. Este sistema contará com 200 qubits lógicos, permitindo 10 milhões de operações por segundo, 20 mil vezes mais do que os computadores quânticos atuais.
Maturidade da IA e computação quântica acelera transformação
“É uma nova era de computação; sabemos qual tecnologia será transformadora, mas seu impacto final ainda precisa ser descoberto”, justifica Curioni. Ele mencionou que as transformações tecnológicas anteriores foram moldadas pelo desenvolvimento de transistores e microprocessadores, seguidos pela interconexão à internet. “Esta transformação será ainda maior […] A Inteligência Artificial e a computação quântica estão alcançando maturidade na mesma década, mudando radicalmente o setor de TI e suas implementações.
No Laboratório de Zurique existe uma réplica do Quantum System Two, que já está sendo instalado em centros de pesquisa na Europa e é considerado uma peça chave do Quantum Centric Supercomputing, com uma arquitetura escalável que emprega os processadores desenvolvidos pela IBM para enfrentar problemas complexos e realizar descobertas científicas além dos limites da computação tradicional, o que é denominado Quantum Advantage.
Curioni ressalta que a IBM é uma das líderes nesse setor, onde já investe há muitos anos, destacando que a teoria da computação quântica foi em grande parte desenvolvida por um pesquisador da IBM, e que a empresa foi pioneira nas primeiras aplicações. Contudo, ele observa que a tecnologia evoluiu rapidamente nos últimos dez anos e atrásra está mais madura.
Acredito que o mundo quântico se divide entre aqueles que pesquisam equipamentos e protótipos que ainda não são computador quântico, e aqueles que já estão entrando na era da computação quântica com sistemas estáveis e 100 qubits ou mais, afirmou. Neste grupo, a IBM, a Google e a Academia de Ciência da China compõem a elite, porém Curioni garante que a IBM está à frente nesta corrida.
Os investimentos globais estão acelerando, com financiamento público e aporte em startups, com a McKinsey destacando investimentos de governos que totalizam 10 bilhões de dólares em 2024, com o Japão respondendo por 75%. Em startups, o financiamento alcançou 2 bilhões, com destaque para PsiQuantum e Quantinuum, que lideraram a captação.
Uma visão de “quantum valleys”
A oportunidade também se encontra no desenvolvimento de software e na criação de “quantum valleys”, regiões onde organizações na Europa devem investir na criação de novas aplicações. O Basque Quantum é uma dessas iniciativas, impulsionada pelo governo Basco em parceria com a IBM, que visa criar um centro de computação em San Sebastián. Neste centro, já funciona um IBM Quantum System Two, instalado no IBM-Euskadi Quantum Computational Center.
Esse centro começou suas atividades em 14 de outubro, após dois anos de preparação, conforme relatado por Adolfo Morais Ezquerro, vice-ministro de Ciência e Inovação do País Basco, e é equipado com o processador Quantum Heron, com 156 qubits. O centro de inovação está capacitando estudantes e pesquisadores, desenvolvendo uma comunidade de empresas que podem aproveitar a capacidade computacional do sistema.
Embora a confirmação de uma “vantagem quântica” ainda seja desafiadora, a IBM, junto com a Flatiron, BlueQubit e Algorithmiq, desenvolveu um Quantum Tracker com a intenção de validar rigorosamente a computação quântica e demonstrar sua eficiência, confiabilidade e custo-benefício, superando as dúvidas existentes.
A inovação continuará, como observado nas diversas apresentações relacionadas à indústria espacial e ao setor financeiro, bem como nas instalações onde pesquisadores estão trabalhando no desenvolvimento de hardware e algoritmos para otimização de problemas complexos e o desenvolvimento de medicamentos e materiais, gerando valor para os negócios.
Recentemente, foi anunciada mais um passo para expandir a infraestrutura de computação quântica, com a criação de uma “internet quântica” que conectará vários supercomputadores. Esta iniciativa, que envolve a IBM e a Cisco, visa desenvolver parte crucial dessa “rede”, incluindo transdutores e conexões ópticas entre processadores quânticos, com previsão de operação até 2030.
