A IA vai transformar os programadores, não substituí-los

A IA vai transformar os programadores, não substituí-los

A inteligência artificial está a deixar a sua marca em praticamente todas as áreas, e o mundo da programação não é exceção. Com ferramentas como o GitHub Copilot, o ChatGPT e outras IA generativas a ganhar popularidade, muitos profissionais começam a perguntar-se: será que os programadores vão mesmo ser substituídos?

Na verdade, essa ideia é mais mito do que realidade. A IA não vai eliminar os programadores, mas acreditamos que irá transformar o seu papel. Em vez de passarem os dias a escrever linhas de código repetitivas, os programadores vão poder passar a desempenhar um papel mais estratégico, criativo e humano.

Apesar dos avanços da IA, há uma coisa que estas ferramentas ainda não conseguem fazer: compreender o contexto. Ou seja, podem gerar códigos de forma rápida e até funcional, mas não sabem porque é que aquele código é a melhor escolha para um determinado problema.

Quando um programador cria uma aplicação, não está apenas a escrever comandos, mas sim a resolver um problema do mundo real. É essencial pensar na experiência do utilizador, no orçamento, nos prazos, nas regras de negócio, na segurança e em muitos outros fatores. É um trabalho que envolve muito mais do que apenas saber programar.

A IA pode sugerir soluções tecnicamente válidas, mas não sabe se são as mais indicadas para um projeto específico. Um sistema de pagamentos num banco, por exemplo, precisa de ser mais do que funcional; deve cumprir regulamentos rigorosos, garantir segurança máxima e integrar-se com sistemas existentes. Isso exige julgamento, experiência e uma sensibilidade que a IA não possui.

Além disso, interpretar diferentes requisitos continua a ser um desafio essencialmente humano. Os clientes muitas vezes não sabem exatamente o que querem ou como explicar suas necessidades. Cabe ao programador ouvir, fazer perguntas e transformar ideias soltas em soluções concretas. Essa capacidade de comunicação e a tradução entre mundos técnicos e não técnicos permanecem fora do alcance da IA.

A IA pode ajudar, mas não substitui a criatividade

Em vez de tirar o trabalho aos programadores, a IA está a ajudá-los a ser mais rápidos e produtivos. Um estudo com quase 5.000 programadores de empresas como a Microsoft e a Accenture revelou que aqueles que usaram o GitHub Copilot conseguiram concluir cerca de 26% mais tarefas por semana, sem comprometer a qualidade. Para os menos experientes, os ganhos foram ainda mais significativos.

Isto demonstra que a IA pode servir como um excelente suporte, funcionando quase como um colega experiente que oferece sugestões, aponta atalhos e ajuda a evitar erros básicos. Especialmente para iniciantes, é uma forma de aprender de forma mais rápida.

No entanto, é importante lembrar que a IA é mais eficaz em tarefas repetitivas, ou seja, na geração de código mais “mecânico”, do que em abordar problemas fora da caixa. É aqui que a criatividade do programador se destaca.

Assim, programar não se resume a escrever código. Trata-se de pensar numa boa arquitetura, criar interfaces intuitivas e encontrar soluções elegantes para desafios complexos. É neste ponto que a intuição, a experiência e a criatividade fazem toda a diferença—qualidades exclusivas dos seres humanos.

Com todas essas mudanças, o papel do programador está a se transformar. Em vez de se concentrar apenas na implementação, o programador passará a ser alguém que pensa no todo, projeta soluções e coordena o trabalho entre pessoas e máquinas. Para isso, não basta saber programar; é necessário comunicar eficazmente, pensar estrategicamente e possuir um espírito crítico.

A Gartner prevê que, até 2027, 80% dos programadores precisarão aprender novas competências para se manterem atualizados. Parece muito? É, mas também representa uma enorme oportunidade de evolução profissional.

Apesar dos receios, o mercado tecnológico continua a crescer. Segundo o Fórum Económico Mundial, até 2030, a IA poderá eliminar 85 milhões de empregos, mas também criará 97 milhões de novas funções, muitas em áreas ligadas à tecnologia, como desenvolvimento de software, ciência de dados ou cibersegurança.

Portanto, a IA não está a acabar com o trabalho, mas a mudar a natureza do mesmo. Novas funções estão a surgir, como especialistas em prompt engineering, revisores de código gerado por IA e arquitetos de sistemas inteligentes. Esses papéis exigem conhecimento técnico, mas também visão estratégica e entendimento das limitações da IA.

Simultaneamente, a própria IA está a facilitar o acesso ao mundo da programação. Atualmente, mais pessoas conseguem criar suas próprias aplicações, mesmo sem uma formação tradicional na área. Isso gera um novo grupo de “programadores cidadãos” e aumenta ainda mais a necessidade de profissionais experientes que possam orientar, rever e assegurar a qualidade do que está a ser desenvolvido.

Numa era de mudanças rápidas, já não é suficiente obter um diploma e considerar que a formação está concluída. A aprendizagem tornou-se contínua, e quem não acompanhar as novidades ficará rapidamente para trás.

Diversos estudos da McKinsey indicam que milhões de pessoas precisarão se requalificar até 2030, e a área da programação, especialmente aquela assistida por IA, está entre as mais promissoras. Contudo, essa formação não se limita a aprender novas ferramentas; é necessário aprofundar conhecimentos.

Os programadores devem focar no desenvolvimento de competências que a IA não possui: pensamento crítico, design de sistemas, liderança, colaboração e, claro, literacia em IA—entender como funciona, onde é útil e onde falha.

Inclusive, profissionais de outras áreas podem se beneficiar dessa nova realidade. Profissionais de marketing, gestão, design ou outras áreas técnicas estão a aprender programação para solucionar problemas nos seus próprios contextos. E os programadores mais experientes têm uma grande oportunidade à frente: liderar, ensinar e acompanhar essa nova geração de criadores digitais.

O futuro pertence a quem souber trabalhar com a IA, não contra ela

Certamente, a IA está a mudar o mundo da programação, mas não está a resultar no seu fim. Aqueles que souberem adaptar-se, aprender continuamente e colaborar com essas novas ferramentas terão um papel ainda mais relevante.

O futuro da programação será moldado por pessoas que saibam tirar proveito da IA, não como uma ameaça, mas como uma parceira. Isso exige mente aberta, curiosidade e vontade de crescer. Em troca, oferece uma carreira mais rica, desafiadora e com um impacto ainda maior no mundo.

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