Joana Mendonça de Matos (*)
A ética digital deixou de ser um assunto restrito à academia e tornou-se um imperativo social, político e econômico. Desde as maneiras como trabalhamos e aprendemos até as interações nas redes sociais e as decisões tomadas por algoritmos invisíveis, todos somos afetados. Nesse contexto, Lisboa será sede, de 17 a 19 de setembro, da 22.ª Conferência Internacional sobre os Impactos Éticos e Sociais das TIC (ETHICOMP 2025), que ocorrerá no Palácio dos Condes de Redondo e é organizada pelo Departamento de Engenharias e Ciências da Computação da Universidade Autónoma de Lisboa.
O evento destaca-se pelo seu caráter internacional, reunindo acadêmicos, profissionais, filósofos e legisladores de distintas nações e áreas, abrangendo desde a computação até ciências sociais, filosofia, direito, educação e gestão. O objetivo é discutir como a tecnologia se entrelaça com os valores. A colaboração de diversas universidades globais mostra que o digital ultrapassa barreiras físicas e disciplinares.
A iniciativa da Universidade Autónoma de Lisboa sublinha a responsabilidade da academia portuguesa em temas de ética digital, elevando o prestígio da instituição tanto no aspecto técnico quanto em cidadania, regulação, justiça e direitos humanos. Portugal deixa de ser apenas um observador e assume um papel ativo em um debate global.
Quem participa da revolução digital e com quais recursos? Existem barreiras para vozes menos favorecidas? Como garantir que os resultados impactem políticas públicas, regulação e práticas empresariais? E, acima de tudo, como assegurar que a ética esteja integrada desde a concepção, produção e uso da tecnologia?
Os temas abordados na ETHICOMP 2025 são de relevância indiscutível: literacia em IA, explicabilidade de algoritmos, gênero e tecnologias digitais, relações humanas mediadas por IA, responsabilidade empresarial digital e o impacto das redes sociais, especialmente entre os jovens. Em um cenário de revolução tecnológica, valores fundamentais como privacidade, igualdade, autonomia e dignidade humana estão em jogo. Repensar práticas e regulamentos é uma necessidade urgente.
Para debater essas e outras questões, a conferência contará com aproximadamente 90 apresentações selecionadas entre 165 propostas, além de painéis em áreas como Ética & Sociedade, Educação, Sistemas e Segurança. É um espaço que preza pelo rigor científico e pela diversidade de opiniões, comprometido com a produção de conhecimento relevante.
Mais do que uma escolha, a ética digital é fundamental. Para moldar um futuro tecnológico que seja humano, justo e sustentável, conferências como esta não são privilégios, mas sim urgências. A ETHICOMP 2025 representa, portanto, uma ótima notícia para Portugal e para a comunidade internacional.
(*) Professora Auxiliar do Departamento de Engenharias e Ciências da Computação (DECC) da Universidade Autónoma Portuguesa
