Bragança (CNN Autárquicas 2025) – As eleições autárquicas na capital do distrito de Bragança prometem ser das mais animadas dos últimos anos, com um confronto entre razão e coração em perspetiva.
O habitual duelo entre o PSD, no poder há 28 anos, e o PS coloca frente a frente um dinossauro autárquico, que já foi presidente de junta, vice-presidente da Câmara e é o atual detentor do cargo, conhecido pelo seu humanismo e proximidade com as pessoas, e, do lado socialista, uma das cientistas portuguesas mais reputadas na sua área (agroalimentar) e uma das mais citadas em todo o mundo, ex-deputada e antiga secretária de Estado de António Costa.
Estes são os lados mais visíveis de um duelo, o mais marcante que se antevê no distrito, que tem 12 concelhos.
Desde o 25 de abril, a direita tem governado o concelho de Bragança, à exceção de dois mandatos em que o PS conquistou a Câmara, por Luís Mina (de 1990 a 1998).
De resto, José Luís Pinheiro (por PSD e CDS, entre 1975 e 1990), Jorge Nunes (de 1998 a 2013), Hernâni Dias (de 2013 a 2024) e, atualmente, Paulo Xavier (assumiu o cargo em 2024 quando Hernâni Dias foi eleito deputado) têm dado corpo à governação de direita (PSD), num dos concelhos mais tradicionalistas do país.
O PSD parte com o conforto de ter feito o pleno há quatro anos, conquistando todas as 39 freguesias do concelho, e ganhando com uma diferença de 5.500 votos (10.307 contra 4.836), mais do dobro do que aqueles que o candidato do PS, o antigo secretário de Estado da Administração Interna, Jorge Gomes, conseguiu.
Há oito anos, o cenário não foi muito diferente. Na altura, Hernâni Dias foi eleito para o segundo mandato com 10.840 votos contra os 5.153 de Carlos Guerra.
Este ano, a diferença entre os dois partidos deve ser bastante mais curta.
Isabel Ferreira tem maior capacidade de penetração entre as classes mais altas e espíritos mais críticos, sobretudo em meio urbano. Se há quatro anos o PSD venceu na cidade por cerca de dois mil votos, este ano é crível que o cenário seja outro, mais pautado pelo equilíbrio.
Paulo Xavier, que foi presidente da maior junta de freguesia do distrito, na altura a junta da Sé (correspondente praticamente à cidade de Bragança), durante quatro mandatos, é uma figura conhecida por toda a gente, sobretudo nos bairros mais populares e populosos.
Músico e empresário antes de ter entrado na política em 1997, pela porta da Junta de Freguesia da Sé, consolidou o percurso como vice-presidente da Câmara de 2013 a 2024, ano em que assumiu os destinos do município.
A diferença deverá ser feita, por isso, no meio rural, onde em 2021 o PSD dominou, vencendo por cerca de três mil votos.
Pela primeira vez em 12 anos, o PS apresenta candidaturas a todas as freguesias do concelho. Se, por um lado, isso fará aumentar previsivelmente a votação no partido, por outro, poderá contribuir para uma maior mobilização das hostes do PSD, que enfrenta um adversário mais aguerrido e que dá luta em todos os campos de batalha.
No meio deste cenário, outros fatores que podem influenciar passam pelas divisões políticas que atravessam os dois partidos (sobretudo o PSD), fragilizando ambas as posições.
As restantes candidaturas, de Chega, CDU, Iniciativa Liberal e uma independente, não deverão conseguir eleger nenhum dos sete vereadores em jogo.
Nos outros 11 concelhos, nota para mudanças forçadas em três (Mirandela, Vimioso e Torre de Moncorvo). Em Mirandela, Júlia Rodrigues (PS) decidiu não concorrer a um terceiro mandato, pelo que tudo está em aberto (ainda que com vantagem para os socialistas). O aparecimento de duas candidaturas independentes ajuda a baralhar ainda mais as contas.
Em Vimioso, Jorge Fidalgo também já deixou a autarquia perto do final do terceiro mandato, substituído pelo vice António Santos. Mas o PS aposta forte em António Oliveira, que já chegou a ser vereador do… PSD.
Em Torre de Moncorvo, Nuno Gonçalves saiu em 2024 para a Assembleia da República (eleito pelo PSD), a um ano do final do terceiro e último mandato. O seu antigo chefe de gabinete, José Meneses, assumiu a pasta e enfrenta a concorrência de Adriano Menino, candidato pelo PS pela segunda vez consecutiva.
Em Vinhais, a candidatura independente da antiga diretora regional de agricultura e pescas do Norte, Carla Alves, pode baralhar os resultados, por sair da mesma área política do socialista Luís Fernandes, que governa a autarquia há dois mandatos (sucedendo a Américo Pereira, marido de… Carla Alves), sem esquecer a de Moura dos Santos, do PSD.
Já em Macedo de Cavaleiros, o médico Benjamim Rodrigues (PS) reformulou a equipa e enfrenta uma candidatura forte do PSD, comandada por Sérgio Borges, atual presidente da Junta de Freguesia da cidade.
Em Carrazeda de Ansiães (PSD), Vila Flor (PSD), Alfândega da Fé (PS), Freixo de Espada à Cinta (PS) e Miranda do Douro (PSD) não se esperam grandes surpresas.
António Gonçalves Rodrigues é diretor do jornal MENSAGEIRO DE BRAGANÇA. Consulte o site do jornal aqui.
