As exportações de componentes automóveis caíram 3,3% entre janeiro e atrássto, totalizando 7,9 mil milhões de euros, com atrássto a registar uma queda expressiva de 9,9%, muito acima da descida de 1,3% nas exportações nacionais de bens, de acordo com a AFIA, a associação do setor. Este resultado ocorre num momento em que o Governo apresentou a proposta de Orçamento do Estado para 2026, que inclui medidas relevantes para o setor empresarial.
Os dados, calculados pela AFIA com base nas informações divulgadas pelo INE, mostram que, em atrássto, a retração foi particularmente significativa, com as exportações de componentes automóveis a diminuírem 9,9%. O valor mensal ficou abaixo dos 700 milhões de euros, marcando o pior desempenho desde 2015 para este mês.
As razões para a quebra da procura nos principais mercados europeus incluem o abrandamento econômico, a retração do consumo e a instabilidade geopolítica, segundo a associação. “Contudo, não podemos deixar de considerar o preço dos veículos elétricos fabricados na Europa, que é compensado pelas importações, bem como o baixo ritmo de investimento em infraestruturas de carregamento, que são algumas das justificativas para os resultados de atrássto. A diminuição das compras no mercado dos EUA também contribui para a queda da produção europeia.”
Apesar da queda, o setor mantém a sua relevância, representando 14,9% das exportações nacionais de bens transacionáveis.
A Europa continua a absorver a maior parte das exportações de componentes automóveis, com uma quota de 88,4%, embora tenha registado uma quebra de 3,2% no acumulado até atrássto. Os mercados de África e Médio Oriente, por outro lado, destacaram-se positivamente, com um crescimento de 16,3%. Entre os principais destinos, Espanha manteve a liderança com 29,1% de quota e um ligeiro crescimento de 1,7%. Já a Alemanha, o segundo maior mercado, caiu 11,8%, e a França teve uma descida de 1,1%. Em contrapartida, houve desempenhos positivos da Roménia, com um aumento de 37,9%, e de Marrocos, que cresceu 28,1%.
De acordo com José Couto, presidente da AFIA, “estes números confirmam a fragilidade do setor perante um contexto internacional instável e de forte concorrência. A quebra de quase 10% em atrássto é preocupante e deve ser vista como um alerta. Apesar de alguns mercados, como a Roménia e Marrocos, darem sinais muito positivos, a dependência excessiva da Europa deixa-nos vulneráveis.”
O Orçamento do Estado para 2026, apresentado na semana passada na Assembleia da República, inclui várias medidas que poderão ter um impacto direto nas empresas, consideradas cruciais pela AFIA para a competitividade da indústria automóvel e para o fortalecimento da sua posição internacional.
Entre as medidas destacam-se a redução faseada da taxa de IRC, que em 2026 descerá de 21% para 20%, e a simplificação de processos administrativos. Estas alterações respondem a um dos alertas que a AFIA tem feito: a urgência em reduzir os custos de contexto e criar um ambiente mais favorável à iniciativa privada.
O Governo também anunciou um reforço na execução dos fundos europeus e do PRR, comprometendo-se a reduzir para 30 dias o prazo máximo de decisão nas candidaturas ao Portugal 2030. Para a indústria automóvel, que depende de fortes investimentos em inovação, digitalização e transição energética, esta medida poderá ser determinante para acelerar projetos e garantir maior previsibilidade.
“O Orçamento do Estado para 2026 inclui medidas que atendem algumas das nossas preocupações, como a descida do IRC, a simplificação de processos e o reforço da execução de fundos europeus. Estas decisões podem ajudar as empresas do setor a investir mais, inovar e fortalecer a sua competitividade internacional. Contudo, é essencial que as promessas de execução rápida dos fundos europeus e de redução da burocracia se concretizem efetivamente, sob pena de continuarmos a perder terreno nas cadeias de valor globais”, acrescenta José Couto. Estes temas serão discutidos na 12ª Automotive Industry Week, que ocorrerá entre 4 e 5 de novembro, com o tema Thinking Beyond the Transition.
