A reprogramação mais recente do PRR, anunciada na semana passada pelo ministro da Economia e da Coesão Territorial, Manuel Castro Almeida, deve ser vista, não como um sinal de fragilidade, mas sim como um exemplo de pragmatismo. Portugal está a ajustar o plano para garantir que nenhum recurso europeu fique sem ser utilizado, e isso é, por si só, uma boa notícia. Mais do que discutir atrasos ou dificuldades, é momento de olhar para a frente e entender como as empresas podem transformar esta reprogramação numa alavanca para o crescimento e competitividade.
A decisão de transferir verbas não executadas para o Instrumento Financeiro para a Inovação e Competitividade (IFIC), administrado pelo Banco de Fomento, é um passo crítico e estratégico. Com um reforço inicial de 315 milhões de euros, este mecanismo assegura que os fundos sejam aplicados em projetos empresariais de inovação, tecnologia e diferenciação produtiva – exatamente a área onde as empresas precisam de mais apoio.
O IFIC não é apenas um fundo alternativo; é um instrumento que aborda as principais barreiras que impedem projetos disruptivos: a dificuldade de acesso a financiamento competitivo, os elevados riscos de mercado e a falta de soluções específicas para setores estratégicos. Não é por acaso que as primeiras linhas de apoio estão focadas em áreas como reindustrialização, economia da defesa e segurança, e inteligência artificial nas PME.
É verdade que a execução do PRR tem sido desafiadora. Porém, é precisamente nesta dificuldade que reside uma oportunidade. O verdadeiro sucesso do PRR não será medido apenas pela execução de verbas, mas sim pela capacidade de criar empresas mais inovadoras, internacionalizadas e preparadas para enfrentar desafios globais. Para isso, é fundamental que as empresas alinhem seus investimentos com as prioridades estratégicas e apresentem candidaturas robustas que convertam ambição em resultados concretos.
O momento exige pragmatismo e visão. O Estado deve garantir clareza, previsibilidade e agilidade nos processos. Contudo, a transformação dependerá, em última análise, da capacidade do setor empresarial em investir, inovar e conquistar novos mercados.
Se corretamente aproveitada, esta reprogramação pode ser a resposta que permitirá a Portugal acelerar a modernização econômica, tornando as empresas mais robustas, competitivas e exportadoras, além de melhorar de forma sustentável o rendimento dos trabalhadores.
O PRR pode ser lembrado apenas como mais um programa europeu ou pode se tornar o catalisador de uma mudança estrutural no nosso tecido empresarial. A escolha é nossa – como empresários, sociedade e, especialmente, como um país que deseja ser protagonista na Europa. Portugal precisa de uma liderança firme, de uma execução determinada e de uma confiança renovada entre o Estado e as empresas. O futuro é construído nas decisões de cada dia. E começa atrásra.
