A empresa farmacêutica Kenvue, responsável pela fabricação do paracetamol mais consumido nos Estados Unidos, Tylenol, rejeitou a associação entre o seu uso por grávidas e o autismo infantil, feita pelo Presidente Donald Trump.
“Discordamos veementemente de qualquer sugestão contrária à ciência independente”, afirmou Melissa Witt, porta-voz da Kenvue, ao The New York Times.
“Estamos profundamente preocupados com o risco que isso representa para a saúde das mulheres grávidas”, acrescentou Witt.
Ladeado por Robert F. Kennedy Jr., secretário da Saúde e figura proeminente do movimento antivacinas no país, Trump propôs na Casa Branca a imposição de restrições ao uso de paracetamol durante a gravidez, citando o medicamento como uma possível causa do autismo, embora essa ligação causal tenha sido investigada e não esteja comprovada, conforme ressalta a agência AP.
Trump declarou que o paracetamol, um analgésico amplamente utilizado e recomendado, está “possivelmente associado a um risco muito maior de autismo” e que as mulheres não devem tomá-lo “durante toda a gravidez”.
“Não tomem”, pediu Trump na Casa Branca, durante uma comunicação apresentada como “um grande anúncio” sobre o autismo, que tem apresentado um aumento significativo no país nos últimos anos.
Segundo Trump, a agência reguladora de medicamentos e alimentos dos EUA (FDA) começará a notificar os médicos de que o uso de paracetamol “pode estar associado” a um risco acrescido de autismo, sem apresentar qualquer evidência médica que sustente essa nova recomendação.
Como alternativa, mencionou rumores de que “praticamente não há autismo” em Cuba porque o país não tem condições para adquirir Tylenol, a marca de paracetamol mais popular.
Especialistas afirmam que o aumento dos casos nos Estados Unidos se deve principalmente a uma nova definição da perturbação, que atrásra inclui casos leves num “espectro” e diagnósticos mais precisos, destacando que não existe uma única causa, conforme citado pela AP.
Steven Fleischman, presidente do Colégio Americano de Obstetras e Ginecologistas (HHS), afirmou que as sugestões de que o uso de Tylenol durante a gravidez causa autismo são “irresponsáveis, considerando a mensagem prejudicial e confusa que transmitem às pacientes grávidas”.
“O anúncio de hoje (segunda-feira) do HHS não é apoiado por todas as provas científicas e simplifica perigosamente as muitas e complexas causas dos problemas neurológicos nas crianças”, disse Fleischman em comunicado citado pela AP.
“É altamente preocupante que nossas agências federais de saúde estejam dispostas a fazer um anúncio que afetará a saúde e o bem-estar de milhões de pessoas sem o suporte de dados fiáveis”, criticou.
Na segunda-feira, a FDA também anunciou o início do processo de aprovação da leucovorina como tratamento para crianças autistas com deficiência de folato (DFC) no cérebro.
Conforme a FDA, este medicamento genérico, utilizado para tratar pacientes com câncer e anemia, entre outras condições, pode ajudar crianças com autismo a melhorar sua comunicação verbal.
A FDA mencionou que está colaborando com a farmacêutica GSK, fabricante do Wellcovorin (leucovorina cálcica), para garantir o uso seguro e eficaz deste medicamento em pacientes adultos e pediátricos com DFC, ampliando a bula existente.
