Estratégia Offshore de Longo Prazo para Portugal

Estratégia Offshore de Longo Prazo para Portugal

As opiniões eram variadas, mas a mensagem era a mesma: assim como em outros setores, Portugal corre o risco de perder uma oportunidade única para se consolidar como um dos principais players no setor das energias offshore.

Esse foi um dos temas mais aguardados no primeiro painel do XV Congresso de Construção Metálica Mista e, paralelamente, do I Congresso de Engenharia de Fachadas – uma organização da CMM – Associação Portuguesa de Construção Metálica e Mista, com o Jornal Económico como parceiro de mídia: a energia offshore. A motivação para esse interesse é simples: há pouco mais de duas semanas, a ministra do Ambiente e Energia, Maria da Graça Carvalho, declarou que a produção de energia eólica offshore só será viável quando alcançar viabilidade econômica, o que, segundo ela, está “muito longe” de acontecer. Isso foi suficiente para provocar reações em diversos setores.

O painel não tinha a intenção de contestar as declarações da ministra ou tecer críticas diretas. Contudo, ao final das quatro intervenções, ficou evidente que os participantes concordavam que o país possui condições geográficas naturais excepcionais para emergir como um dos protagonistas desse setor. Além disso, todos reconheceram a necessidade de um investimento massivo para que o offshore se torne uma opção viável. Outro ponto de consenso: é fundamental que o país tenha a sensibilidade para perceber que, possuindo as condições naturais essenciais, deve abordar o tema com cautela, observando o “estado da arte” apresentado pelo setor, a fim de não perder essa oportunidade.

Eivind Sonju, da Clovers, Armando Correia, da Wood, Bruno Azevedo, da CS Wind, e Luís Simões da Silva, presidente da seapower, uma associação para o desenvolvimento da economia do mar, carregaram uma visão bastante alinhada sobre essas questões. De certa forma, a conclusão de Simões e Silva sintetizou bem a discussão: “Portugal conseguiu implementar um cluster do vento; se queremos ter vantagem nos offshore flutuantes, precisamos pensar a respeito. Vamos deixar que a Ásia lidere, ou tomaremos a iniciativa? Não podemos repetir o que aconteceu com a defesa”, que foi uma resposta reativa quando a Europa enfrentou sua própria insegurança após a guerra na Ucrânia, resultando em uma dependência significativa de ameaças externas. “Precisamos pensar à frente”, ressaltou, enfatizando a necessidade de colaboração com o Governo e a União Europeia, e não apenas discutir sem tomar as medidas adequadas.

Além de cada participante apresentar as soluções tecnológicas de suas empresas, Eivind Sonju lembrou que “nos últimos cinco anos, a Europa percebeu suas fragilidades em termos de energia” – uma consequência, aliás, dos tempos de guerra que assolam o continente. Ele destacou que, embora “Portugal esteja na vanguarda das energias renováveis, continua dependente da energia proveniente da Espanha”, como ficou evidenciado no apagão ocorrido em 28 de abril. “Produzir energia é sinônimo de independência, mas também de emprego, preços estabilizados e resiliência” – ao contrário, “a dependência energética implica uma dependência industrial”, desde o início.

Na visão de Sonju, “a resposta está nas renováveis” e, com a “vantagem atlântica de Portugal”, isso pode permitir que o país tenha uma vantagem adicional na reindustrialização. Originário da Noruega, ele explicou que seu país ainda não está suficientemente integrado em termos da indústria de gás, que também é essencial como resposta à dependência energética europeia.

Armando Correia, por sua vez, ressaltou que a oportunidade apresentada pelos offshore para a produção de energia também representa uma oportunidade para o setor metalúrgico. “Portugal precisa ter uma estratégia; não é suficiente ter as qualidades, é necessário ter uma visão” sobre o assunto. Ele enfatizou um ponto particularmente importante: “Temos o conhecimento, por que não realizamos as atividades aqui, em vez de deixar que os engenheiros que formamos tenham que buscar oportunidades no exterior?” Portugal precisa de decisões, e de pensamento claro, concluiu.

Bruno Azevedo destacou que a Ásia terá um papel significativo no setor. “Temos as pessoas, a capacidade, o conhecimento e o vento, mas nos faltam infraestruturas de suporte”, que são responsabilidade do governo ou dos governos, referindo-se a portos onde as enormes plataformas offshore simplesmente não cabem. Um problema que os espanhóis, que não são conhecidos por serem “cabeças ao vento”, já abordaram, uma vez que “estão realizando investimentos para décadas”.

De certa forma, Portugal poderia se beneficiar ao aprender com aqueles que já fazem bem: França, Noruega e Escócia. No entanto, os sinais vindos do lado político – no que diz respeito à criação de uma estratégia para o setor – “não são bons”. “Precisamos de políticas específicas.” “Há 40 anos falando sobre um aeroporto, não tenho grandes expectativas para os portos.” No limite, ao retornar à questão do talento que atravessa a fronteira, observou que “os que saem não têm como retornar, uma vez que a ideia é reter e não trazer de volta” – ele mesmo é um exemplo de quem voltou.

Luís Simões da Silva também mencionou que “é necessário planejamento e investimento a longo prazo, não se pode pensar que em dois anos seremos competitivos”, ressaltando que “devemos agir com seriedade e não com políticas conjunturais”.

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