Portugal enfrenta desafios estruturais que necessitam de soluções que vão além do imediato. A sociedade e a economia requerem decisões de longo prazo, fundamentadas em consensos políticos e estratégicos que superem ciclos eleitorais cada vez mais incertos. A falta de antecipação de problemas e a implementação de soluções sustentáveis afetam a competitividade do país, a qualidade dos serviços públicos e a coesão social.
Um exemplo claro é a educação. Nos próximos anos, Portugal enfrentará uma escassez significativa de professores. As projeções demográficas indicam que muitos docentes se aposentam sem que existam medidas estruturais para preencher essas lacunas. O que está a ser feito para garantir que haverá profissionais qualificados, bem distribuídos pelo território, com sistemas de incentivo que tornem a carreira docente atrativa? A resposta não pode ser apenas um aumento temporário de contratações ou incentivos de curto prazo; é necessário um plano estratégico que forme novos professores, valorize os existentes e antecipe as necessidades futuras.
Situações semelhantes ocorrem na saúde. Portugal já enfrenta carências em várias especialidades médicas. A falta de médicos não é um fenômeno recente, mas, novamente, a resposta política tem sido insuficiente, muitas vezes restrita a medidas temporárias ou paliativas. Construir um sistema de saúde resiliente requer planejamento estratégico, formação continuada e incentivos claros para fixar profissionais em regiões mais periféricas. Sem essa visão de longo prazo, os impactos das decisões tomadas hoje somente se farão sentir no futuro, muitas vezes de forma irreversível.
O mesmo se aplica a áreas como a justiça, a gestão fiscal, a administração pública e a transição energética. Cada uma dessas áreas exige reformas estruturais, planejamento e compromisso que transcendam mandatos eleitorais de quatro anos. Não se trata apenas de ajustes incrementais, mas de criar bases sólidas que permitam ao país antecipar tendências, responder a crises e aproveitar oportunidades de crescimento sustentado.
A política portuguesa tem sido frequentemente marcada por decisões de curto prazo, moldadas por ciclos eleitorais e pela busca de resultados imediatos. Este modelo é incompatível com problemas que exigem soluções de longo prazo. Para mudar essa realidade, é necessário estabelecer acordos políticos sólidos e duradouros, que permitam implementar reformas profundas em áreas cruciais como educação, saúde, segurança social, inovação tecnológica e transição energética. Esses acordos devem se basear em evidências, planejamento prospectivo e compromisso com resultados, independentemente das mudanças de governo ou da instabilidade do ciclo político.
É fundamental perceber que muitas dessas reformas terão efeitos após vários anos, mas o custo de adiar decisões é muito superior. Cada ano sem medidas estruturais é um ano em que a sociedade sofre as consequências, com falta de profissionais qualificados, serviços públicos sobrecarregados e oportunidades econômicas desperdiçadas. Por isso, o planejamento estratégico deve ser visto não como uma opção, mas como uma obrigação ética e política, garantindo sustentabilidade e equidade para as gerações futuras.
Portugal possui capacidade técnica e recursos humanos para implementar reformas ambiciosas. O desafio está na coragem política, na capacidade de diálogo e na visão de longo prazo que ultrapasse interesses imediatos. Planejamento antecipado e compromissos duradouros são as únicas formas de assegurar que o país não apenas reaja aos problemas, mas se antecipe a eles, construindo bases sólidas para um futuro sustentável, equitativo e competitivo.
Em suma, Portugal não pode continuar a olhar apenas para o curto prazo. É urgente desenvolver uma cultura política e administrativa que privilegie o planejamento, o consenso interpartidário e reformas estruturais em áreas essenciais. Apenas assim será possível garantir que problemas como a escassez de professores, médicos ou especialistas em setores críticos sejam resolvidos de forma sustentável, transformando desafios de longo prazo em oportunidades de progresso sólido e duradouro.
