O ‘Paraíso’ terá lugar em Braga, de 18 a 20 de setembro. O evento reúne arte e debate, explorando questões complexas através da criação artística afrodescendente e lusófona.
Poder-se-ia afirmar que o PARAÍSO reside em Braga. Pode soar provocativo? Ali contempla-se o “universo artístico afrodescendente e lusófono como território em constante expansão e transformação”. O evento promove o debate sobre os 50 anos das independências dos Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa, celebrando “a criação contemporânea que surge da intersecção entre passado, presente e futuro”. Este ano, o festival é estruturado em três eixos de programação — Arte, Pensamento e Mediação — e se fundamenta nas margens, nos arquivos e nas vozes que “continuam a elevar a afrodescendência nos dias de hoje.”
Uma pergunta ressoa quando conversamos com Nuno Abreu, que coordena a curadoria do PARAÍSO desde sua primeira edição, em 2023: Que caminhos seguir 50 anos após as independências? O que é realmente importante? Hoje, “é inegável que os períodos colonial e pós-colonial permanecem como temas sensíveis e fracturantes nas nossas sociedades, não apenas em Portugal, mas em todo o mundo. O debate sobre a afrodescendência, abordando questões como racismo e neocolonialismo, deve ser fomentado pelo setor artístico por meio de uma abordagem construtiva e que promova o diálogo.”
Esta é a essência do PARAÍSO. Não evita a complexidade, mas convoca perspectivas diversas para instigar o diálogo. Na opinião de Nuno Abreu, é um dever das instituições culturais: “É fundamental que as programações dos teatros públicos incentivem uma variedade de linguagens artísticas. O PARAÍSO busca precisamente isso: oferecer a todos os públicos temas relevantes para debate de forma plural. O que verdadeiramente importa”, e aqui ele toca numa questão delicada, “é o diálogo e nunca o silenciamento de assuntos fracturantes.”
Enquanto programador do PARAÍSO, Nuno Abreu deseja “apresentar artistas que geralmente não têm acesso e oportunidades suficientes em teatros nacionais, trazendo uma tradução artística de suas visões sobre questões como invisibilidade e racialização.” O objetivo do festival é enriquecer a consciência coletiva e oferecer múltiplas narrativas, visando alcançar públicos diversos. A cultura pode — e deve — desempenhar um papel ativo na mudança de narrativas e mentalidades.
<p“Na minha visão, uma das potencialidades da arte e das instituições culturais é introduzir e desconstruir temas que normalmente ficam retidos na esfera política. Considerando isso, o PARAÍSO pretende trazer esses assuntos de volta ao debate público, por meio de manifestações artísticas” que ocorrerão no Theatro Circo e no gnration, dois locais centrais do festival.
Nesta edição, de 18 a 20 de setembro, haverá espaço para novas criações, como “Adilson”, a primeira ópera de Dino D’ Santiago, que “traz à tona um tema atual: a imigração em Portugal”. Além disso, Nuno Abreu destaca a importância de trazer a Braga, pela primeira vez, “a icônica Banda Monte Cara, que surgiu no primeiro bar africano em Lisboa, criado pelo músico cabo-verdiano Bana”. O entusiasmo do programador é evidente e ele justifica: “É algo que nos traz grande satisfação, pois é um legado histórico que permanece vivo graças a um excepcional número de artistas que compõem esta banda atualmente.”
Haverá também espaço para diálogos, como a conversa que ocorrerá na Livraria Centésima Página, na sexta-feira, 18, e para explorar as ruas de Braga, “entendendo os símbolos e marcas coloniais que coexistem conosco diariamente”. Uma oportunidade para “refrescar a memória e nos tornarmos mais conscientes do que nos cerca”, ressalta Nuno. Com insights de pesquisadores e artistas que compartilharão suas visões sobre “o que foi e o que é o momento e o peso histórico dessas conquistas dos PALOP.”
Estas são apenas algumas das razões que nos motivam a participar na construção deste PARAÍSO. Nuno Abreu menciona que ações como estas ajudam instituições culturais como o Theatro Circo e o gnration a “promover o diálogo entre comunidades e a mobilidade artística em nosso país, enriquecendo, consequentemente, o tecido cultural português.”
PARAÍSO | 18-20 setembro | Braga | Programa completo em theatrocirco.com | gnration.pt
